quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

A Noite dos Bruxos - Susan Claudia

“A senhora vê alguém morto e chora, pensando que a morte é terrível. Na verdade, no entanto, a senhora está chorando por si mesma, não pelo morto. A senhora se vê morta... no entanto, ao mesmo tempo, está consciente do que acontecesse ao seu redor. O morto, entretanto, não tem consciência. Assim, para o defunto, a morte não é nem um pouco terrível. É indolor, física e mentalmente. É zero”.



Título: A Noite dos Bruxos

Autor: Susan Claudia

Título Original: Mrs. Barthelme's Madness

Tradução: Tonie Thomson

Editora: Círculo do Livro

1976







      Neste romance de Susan Claudia, somos levados à Rachel Barthelme, uma mãe de família com o casamento falido. Rachel leva uma vida pacata. É esposa de um dos maiores empresários do país, mãe três filhos que gosta muito, entretanto, sua vida se resume somente a isto. Como a própria narrativa nos conta, Rachel crescera escutando “Quando você se casar, Rachel...”. Sua vida, mesmo monótona, é normal, até então. Porém, quando esta voltando para casa, após levar sua melhor amiga ao aeroporto, Rachel acaba envolvendo-se em um acidente.
      É Halloween e pelas redondezas, há crianças constantes à procura de guloseimas. Rachel acaba encontrando, de maneira infortuna, um grupo deles. Um grupo de jovens mascarados. O resultado foi atropelamento de um garoto, que segundo Rachel, acabara morrendo. A protagonista é perseguida pelas crianças, foge e aciona a polícia. O problema, é que os oficiais não encontraram nenhum garoto em nenhum hospital nenhuma marca de atropelamento no carro de Rachel e muito menos qualquer grupo de mascarados. E é neste ponto que a trama se desenrola. O livro vai retratar a paranoia de Rachel quanto a isso, já que ela afirma estar sendo perseguida por essas crianças.
      O enredo é muito intrigante pelo fato de o leitor não saber ao certo se Rachel está ou não indo ao delírio. Por acompanhar a protagonista e pela escrita da autora, cremos que tudo realmente aconteceu e que Rachel apenas não consegue expor os fatos. Por outro lado, quando todo o resto dos envolvidos apresentam provas concretas de que a lógica de Rachel é impossível, o leitor se contradiz.
      Os planos que Rachel sempre tivera fora de se separar do marido após os filhos irem para a faculdade, porém, com a vinda de um terceiro filho, isso ficara fora de cogitação, condenando-a a continuar vivendo sua vida infeliz. Isso leva seu psiquiatra a crer que isso não passa de uma depressão pós-parto e que toda a história são alucinações que remetem ao subconsciente de Rachel culpando sua própria filha por atrapalhar seus planos. Ele afirma também que Rachel é perigosa para o bebê, chegando a oferecer risco de vida.

“Não pode ter nenhum objeto agudo em casa... facas, tesouras, lâminas... Tem medo de matar a criança.”

Claro que ao primeiro momento, isso soa ridículo, porém, analisando as palavras da personagem páginas a trás. Nos contradizemos novamente.

“Mas agora, como você mesma disse, eu tenho um bebê. Adicione dezessete anos à minha sentença, até que o bebê cresça e vá para a faculdade. Mais dezessete anos de começar o dia me amarrando na estaca e ateando fogo à lenha sob meus pés. Isso é exatamente o que significa manter acesa a chama do lar.”

A autora, mesmo com uma escrita simples, consegue passar sua mensagem e o mistério nos aprisiona até o fim. Devo confessar que o final me desapontou de um certo modo. É o típico fim adicione-aqui-o-que-achar-melhor. É claro que isso é esplêndido, nos deixando com desfechos alternativos, porém, na outra mão, nunca saberemos se Rachel está realmente louca ou não.
      É curioso ressaltar a péssima escolha do título na hora da tradução. O título original se enquadra muito melhor que “A Noite dos Bruxos”, que só se adere ao Halloween. Eu acharia muito melhor se fosse traduzido ao pé da letra mesmo “A Loucura da Sra. Barthelme”


“Sim. Ela tem seu próprio mundo, no qual e enclausurou. Para ela... é um lugar feliz. É onde quer estar. No nosso mundo encontrava-se em constante angústia. As pressões a esmagavam. Agora no seu mundo... no seu mundo particular... encontrou paz. Por que não estaria feliz?”

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